01 novembro 2006

Mastigando Humanos: um Romance Psicodélico

Santiago Nazarian é um dos autores mais intrigantes da nova literatura brasileira. Assim é seu novo livro, Mastigando Humanos — Um Romance Psicodélico (Nova Fronteira, 224 págs.). A começar pelo protagonista: um jacaré! Por que a surpresa? Séculos atrás, La Fontaine escreveu fábulas em que animais pensam e falam e, mais recentemente, o nonsense foi explorado por escritores como Campos de Carvalho, sem falar no toque de realismo mágico dos livros de Murilo Rubião. O que surpreende em Mastigando Humanos é trazer esse universo para a literatura contemporânea, mais realista do que o rei.

É verdade que Santiago Nazarian mostra que tem um pé no abismo da loucura desde sua excelente estréia com Olívio, em que ele conta com um ritmo primoroso a história do rapaz certinho que vai pirando aos poucos depois que a namorada o deixa. O próprio Nazarian tem uma biografia meio estranha: foi roteirista de disque-sexo, se virou como barman na Europa e fez experiências com body art, em que se cortou e deixou o sangue escorrer em frente ao vídeo, entre outras coisas exóticas para o mundo literário. São todas essas diferenças que o autor radicaliza neste seu livro.

Como bom paulista, Nazarian se mostra fascinado pela lenda urbana (algo que já se mostrou não ser tão lenda assim) de que jacarés vivem nos esgotos da cidade e eventualmente dão as caras no Tietê. Numa versão masculina da Clara Crocodilo de Arrigo Barnabé, o jacaré, que se chama Frank, deixa as delícias bucólicas do Pantanal para, atraído pelo fluxo intenso das correntezas, parar nos subterrâneos de São Paulo. Filósofo, é autor de tiradas: “Se a fome é o impulso básico da existência, o freio da existência seria o medo? Ou a saciedade?”. Animal de sangue frio, funciona como alter ego do autor em sua fome de experiência, sua recusa em pagar as dívidas e entrar no esquema, seu dilema entre seguir sua natureza de predador e as exigências sociais.

PÓS-MODERNIDADE
Tudo isso faz com que ele dê voz a muitas das questões que aparecem nas obras de Nazarian, cujo principal tema é a tentativa de juntar as peças de indivíduos fragmentados pela pós-modernidade. “Como calosidades que protegem seus pés dos sapatos. Como coletes que protegem você dos inimigos; como carros blindados. Organicamente, somos todos os mesmos, moléculas, água, músculos vermelhos, abertos e quentes, seja pelo sol, seja pelo sangue. Máscaras de jacaré, sapatos de crocodilo, grifes de mariposa, dragonas de general. Depois de mastigar um humano, eu me sentia mais confortável em minha fantasia de réptil urbano. E também fui melhor aceito por meus colegas...”

Mas não se pense que, por ser filósofo, Frank passe o tempo todo de blablablá, ruminando suas reflexões. Aventuras se sucedem. E como. Quem não tem estômago para um fluxo incessante e totalmente imprevisível de situações sem sentido não vai gostar. Quem já está cansado de ler sempre o mesmo livro, vai se refestelar.

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