26 junho 2006

Celine - Remixes V1

Contém 12 remixes (+- 80 minutos)+capa e contracapa pra impressão
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24 junho 2006

Tristão & Isolda

Antes de Romeu & Julieta... Tristão & Isolda

Nesta adaptação da lenda medieval — dirigida por Kevin Reynolds —, o jovem bretão Tristão e a princesa irlandesa Isolda apaixonam-se. Mas ela acaba se casando com o lorde Marcos, líder das tribos da Bretanha e protetor de Tristão, o que dá início a dilemas morais, encontros furtivos e intrigas políticas.

O filme cativa do começo ao fim. Os personagens principais são convincentes, e a caracterização da época e as belas locações conferem veracidade à trama. No fundo, trata-se de uma história sobre a descoberta do amor e suas artimanhas.

Preste atenção nas cenas iniciais, que oferecem pistas para compreender a personalidade de Tristão e também as intrigas que surgirão no decorrer do longa. E no belo poema que Isolda declama ao amado e que dará a medida do que acontecerá com os dois.

O que já se disse:

O filme é melhor do que os comerciais fazem crer — e melhor, talvez, do que o estúdio esperava, o que pode ser o motivo para ele ter ficado na prateleira por mais de um ano.” (Roger Ebert no Chicago Sun-Times)

Sinopse

Clãs lutam pelo poder na Europa da Idade Média após a queda do império Romano. O jovem Tristão tem seus pais assassinados por conspiradores e é adotado por seu tio, Lorde Marke. Ele vira seu maior guerreiro, e dá continuidade aos planos de paz de seu pai.

Dado como morto em combate, Tristão é encontrado e tratado pela bela Isolda. O casal troca juras de amor, mas mantém seus nomes em segredo. Donnchadh, rei da Irlanda, organiza um campeonato de lutas cujo prêmio é a mão de sua filha. É a chance de fazer de Lorde Marke rei e trazer a paz ao unir Inglaterra e Irlanda. Tristão luta em nome de Marke e é vitorioso, apenas para descobrir que ganhou Isolda para seu tio. A paz está próxima, mas o amor do casal é maior do que a força da guerra.

Produzido por Ridley Scott, ‘Tristão e Isolda’ é baseado na lenda Celta de amor proibido, surgida no século XII, que inspirou a famosa ópera de Richard Wagner e ‘Romeu e Julieta’, de William Shakespeare.

Veja trailer de Tristão e Isolda:100k

Site oficial: Tristan & Isolde (em inglês)
Tristão & Isolda (em português)

A trilha sonora inclui a intensa "We Belong Togheter(clique aqui pra ouvir)" de Gavin DeGrawl

Veja o video desta música!
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E também o Hit "Going under" do Evanescence!
clique aqui e veja o clipe desta música!
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fonte:Bravonline/Europa Filmes

16 junho 2006

Oral Fijacion - Fixation Oral (Remixes)


Olá! Hoje eu vou fazer umacoisa que a muito queria fazer...a partir de hoje vou disponiblizar albuns remixes exclusivos... então fiquem ligados o primeiro é o volume 1 da série Oral Fijacion - Fixation Oral da Shakira... Então aproveitem!

Tracklist:
Don't Bother(Bermudez & Harris Chocolate Remix)
Don't Bother(AFTC MIX)
Don't Bother(AFTC Radio Edit)
Don't Bother(Junior Sanchez Radio Edit)
Hips Don't Lie(Bamboo Version)
Hips Don't Lie(Dj Kazzanova Cumbia Mix)
Hips Don't Lie(Guetto Beat Remix)
Hips Don't Lie(Maurice Joshua Radio Edit)
Hips Don't Lie(Raggeton Remix)
Hips Don't Lie (Wyclef Mix)
La Tortura(Arabic Remix)
La Tortura(Groove Remix)
La Tortura(Jovem Pan Radio Edit)
La Tortura(Raggeton Remix)
La Tortura(Spanglish Remix)
La Tortura(Trancy Remix)

08 junho 2006

Quando Nietzsche Chorou

Poucas vezes se viu na história da literatura uma obra que traçasse paralelo tão fantástico entre ficção e realidade. Nela o leitor é convidado a participar de uma série de encontros que não aconteceram na vida real, mas que expõe visões filosóficas, discussões sobre psicanálise e sobre as dores da alma.

Três vezes por semana durante os últimos cinco anos, Justin Astrid tinha começado o dia com uma consulta com o dr. Ernest Lash. Sua consulta de hoje tinha começado como qualquer outra das setecentas sessões de terapia anteriores: às 7:50h da manhã, subia as escadas externas do edifício vitoriano na rua Sacramento, elegantemente pintado em malva e mogno, atravessava o vestíbulo, subia ao segundo andar e entrava na sala de espera tenuemente iluminada de Ernest, permeada com o aroma penetrante e úmido do café italiano escuro torrado. Justin inspirou profundamente, depois verteu o café numa caneca japonesa adornada com um caqui pintado à mão, sentou-se no rígido sofá de couro verde e abriu a seção de esportes do San Francisco Chronicle.

Mas Justin não conseguiu ler sobre o jogo de beisebol do dia anterior. Não neste dia. Algo muito importante tinha acontecido - algo que exigia comemoração. Ele dobrou o jornal e olhou fixamente para a porta de Ernest.

Às 8:00h, Ernest colocou a pasta de Seymour Trotter no arquivo, passou os olhos rapidamente pelo prontuário de Justin, endireitou a mesa, colocou o jornal numa gaveta, colocou a xícara de café fora de vista, levantou-se e, logo antes de abrir a porta do consultório, olhou para trás para examiná-lo. Sem sinais visíveis de habitação. Bom.

Abriu a porta e, por um momento, os dois homens se olharam. Curador e paciente. Justin com seu Chronicle na mão, o jornal de Ernest escondido bem no fundo da mesa. Justin no seu paletó azul-escuro e gravata listrada de seda italiana. Ernest num blazer azul-marinho e gravata florida Liberty. Ambos com sobrepeso de sete quilos, a pele de Justin transbordando no queixo e papadas, a barriga de Ernest se arqueando sobre o cinto. O bigode de Justin enrolava para cima, em direção às narinas. A barba bem cuidada de Ernest era sua característica mais arrumada. O rosto de Justin era expressivo, nervoso; seus olhos, irrequietos. Ernest usava óculos grandes e conseguia passar longos períodos sem piscar.

- Deixei minha mulher - começou Justin, depois de tomar um assento no consultório. - Ontem à noite. Simplesmente saí de casa. Passei a noite com a Laura. - Ele ofereceu estas primeiras palavras calma e desapaixonadamente, depois parou e olhou Ernest detidamente.

- Simples assim? - Ernest perguntou tranqüilamente. Sem piscar.

- Simples assim. - Justin sorriu. - Quando vejo o que precisa ser feito, não perco tempo.

Um pouco de humor tinha se insinuado na interação entre eles nos últimos meses. Normalmente, Ernest considerava algo bem-vindo. Seu supervisor, Marshal Streider, tinha dito que o aparecimento de ação secundária bem-humorada na terapia era freqüentemente um sinal propício.

Mas o comentário “simples assim” de Ernest não tinha sido uma ação secundária de boa-fé. Ficou inquieto com o anúncio de Justin. E irritado! Ele estava tratando Justin há cinco anos - cinco anos dando o maior duro para tentar ajudá-lo a deixar a mulher! E, hoje, Justin o informa casualmente que deixou a mulher.

Ernest voltou a pensar na primeira sessão deles, nas primeiras palavras do Justin: “Preciso de ajuda para cair fora do meu casamento!” Durante meses, Ernest tinha investigado minuciosamente a situação. Finalmente, ele concordou: Justin deveria cair fora - era um dos piores casamentos que Ernest já tinha visto. E, nos cinco anos seguintes, Ernest tinha empregado todos os recursos conhecidos da psicoterapia para capacitar Justin a ir embora. Todos tinham fracassado.

Ernest era um terapeuta obstinado. Ninguém jamais o tinha acusado de não tentar com suficiente afinco. A maioria dos colegas o considerava ativo demais, ambicioso demais na sua terapia. Seu supervisor estava sempre dizendo, num tom de reprimenda: “Ô, rapaz, baixe a bola! Prepare o terreno. Você não pode forçar as pessoas a mudar.” Mas, finalmente, até Ernest foi forçado a perder a esperança. Embora nunca tenha deixado de gostar de Justin e nunca parado de esperar por coisas melhores para ele, Ernest gradualmente começou a ficar mais convencido de que Justin jamais deixaria a mulher, que ele era inamovível,

que poderia ficar encalhado por toda a vida num casamento torturante.

Ernest então definiu metas mais limitadas para Justin: obter o melhor de um mau casamento, tornar-se mais autônomo no trabalho, desenvolver melhores aptidões sociais. Ernest poderia fazê-lo tão bem quanto o terapeuta da porta ao lado. Mas era um tédio. A terapia ficava cada vez mais previsível; não acontecia nada de inesperado. Ernest sufocou os bocejos e empurrou os óculos para cima da ponte do nariz para se manter desperto. Já não discutia Justin com o supervisor. Imaginava conversas com Justin nas quais ele levantava a questão de encaminhá-lo a um outro terapeuta.

E aqui, hoje, Justin entra tagarelando e anuncia com indiferença que deixou a mulher!

Ernest tentou esconder seus sentimentos, limpando seus óculos com um lenço de papel arrancado da caixa.

- Conte-me sobre isso, Justin. - Péssima técnica! Percebeu instantaneamente. Colocou de volta os óculos e anotou no seu bloco: “Erro - pedi informações - contratransferência?”

Mais tarde, na supervisão, ele repassaria essas anotações com Marshal. Mas ele próprio sabia que foi bobagem tentar extrair informações. Por que precisaria tentar induzir Justin a continuar? Ele não devia ter se deixado controlar pela curiosidade. Incontinente - é como Marshal o tinha chamado duas semanas antes. “Aprenda a esperar”, diria Marshal. “Deveria ser mais importante Justin lhe contar do que você ouvir. E, se decidir não lhe contar, então você deve se concentrar nos motivos pelos quais ele vem consultá-lo, paga seus honorários e, ainda assim, sonega informações.”

Ernest sabia que Marshal tinha razão. Ainda assim, não se importava com a correção técnica - esta não era uma sessão comum. O sonolento Justin tinha despertado e largado a mulher! Ernest olhou seu paciente; seria sua imaginação ou Justin parecia mais poderoso hoje? Nada do baixar a cabeça obsequioso, sem a postura encolhida, sem se mexer irrequietamente na cadeira para ajustar a cueca, nenhuma hesitação, sem pedidos de desculpa por deixar cair o jornal no chão ao lado da cadeira.

- Bem, eu gostaria que houvesse mais para contar... Tudo correu tão facilmente. Foi como se eu estivesse no piloto automático. Simplesmente fiz. Simplesmente saí andando! - Justin caiu em silêncio.

De novo, Ernest não conseguiu esperar. - Fale-me mais, Justin.

- Deve ter alguma coisa a ver com Laura, minha jovem amiga.

Justin raramente falava de Laura, mas, quando o fazia, ela era sempre simplesmente “minha jovem amiga.” Ernest achava isso irritante. Mas não deixou transparecer nada e permaneceu em silêncio.

- Você sabe que eu a tenho visto muito; talvez eu tenha minimizado um pouco para você. Não sei por que escondi de você. Mas eu a tenho visto quase diariamente, para almoçar ou dar uma caminhada, ou para subir no apartamento dela para uma diversão na cama. Eu estava me sentindo cada vez mais unido, à vontade, com ela. E então, ontem, Laura disse, de uma maneira bem trivial: “Está na hora, Justin, de você vir morar comigo.”

“E você sabe”, Justin continuou, “roçando para tirar os pêlos da barba que faziam cócegas nas narinas”, pensei: ela tem razão, está na hora.

Laura diz a ele para largar a mulher e ele a larga. Por um momento, Ernest pensou num ensaio que tinha lido uma vez sobre o comportamento de acasalamento dos peixes em recifes de coral. Aparentemente, os biólogos marinhos conseguem identificar com facilidade o peixe fêmea e macho dominantes: simplesmente observam a fêmea nadar e observam o quanto ela perturba visivelmente os padrões de nado da maioria dos peixes machos - todos, exceto os machos dominantes. O poder da bela fêmea, peixe ou humana! Impressionante! Laura, mal saída do segundo grau, teve simplesmente de dizer a Justin que estava na hora de largar a mulher e ele tinha obedecido. Enquanto ele, Ernest Lash, um terapeuta talentoso, altamente talentoso, tinha desperdiçado cinco anos tentando tirar Justin do casamento.

- E, então - Justin continuou -, em casa, na noite passada, Carol facilitou as coisas para mim, pois se mostrou detestável como de costume, martelando a velha tecla de eu não estar presente. “Mesmo quando você está presente, você está ausente”, ela disse. “Puxe sua cadeira até a mesa! Por que é que você fica sempre tão longe? Fale! Olhe para nós! Quando foi a última vez que você fez um único comentário espontâneo para mim ou as crianças? Onde você está? Seu corpo está aqui. Você não está!” No fim da refeição, quando ela estava limpando a mesa e batendo e tinindo os pratos, ela acrescentou: “Nem mesmo sei por que você se dá ao trabalho de trazer o seu corpo para casa.”

“E então, de repente, Ernest, a coisa bateu: a Carol está certa. Ela tem razão. Por que me dou ao trabalho? Repeti novamente para mim mesmo: Por que é que me dou ao trabalho? Então, sem mais sem menos, eu disse em voz alta: ‘Carol, você tem razão. Nisto, como em todas as outras coisas, você está certa! Não sei por que me dou ao trabalho de vir para casa. Você está inteiramente certa.’

“Assim, sem nenhuma outra palavra, subi, empacotei tudo o que pude na primeira mala que encontrei e saí andando de casa. Tive vontade de levar mais coisas, de voltar para dentro para pegar mais uma mala. Você conhece a Carol, ela vai destruir e queimar tudo o que eu deixar para trás. Quis voltar para pegar meu computador; ela usará um martelo nele. Mas sabia que era agora ou nunca. Entre de novo na casa, eu disse a mim mesmo, e você estará perdido. Eu me conheço. Conheço a Carol. Não olhei nem para a direita nem para a esquerda. Continuei andando e, logo antes de fechar a porta da frente, coloquei a cabeça para dentro e gritei, sem saber onde Carol ou as crianças estavam: ‘Eu te telefono.’ E, então, me afastei dali!”

Justin estava debruçado para a frente, na sua cadeira. Tomou um fôlego profundo, inclinou-se para trás exausto e disse: - E isto é tudo o que há para contar.

- E isso foi na noite passada?

Justin assentiu. - Fui diretamente para a casa da Laura e ficamos abraçados a noite inteira. Deus, foi difícil sair dos braços dela esta manhã. Mal consigo descrever como foi difícil.

- Tente - incitou Ernest.

- Bem, quando comecei a me desprender da Laura, subitamente vi a imagem de uma ameba se dividindo em duas, algo em que não tinha pensado desde as aulas de biologia no colegial. Éramos como as duas metades da ameba, separando-se pedacinho por pedacinho até que havia apenas um único e delgado filamento nos conectando. E, então, plop - um doloroso plop -, e estávamos separados. Eu me levantei, me vesti, olhei para o relógio e pensei: Só mais 14 horas até eu estar de volta na cama, novamente preso à Laura. E então vim para cá.

- Aquela cena com Carol na noite passada, você teve pavor dela por anos. Mesmo assim, você parece decidido.

- Como eu disse, Laura e eu combinamos, pertencemos um ao outro. Ela é um anjo - criada no céu para mim. Esta tarde, vamos procurar um apartamento. Ela tem um pequeno estúdio na Russian Hill. Linda vista da Ponte da Baía. Mas pequeno demais para nós.

Criada no céu! Ernest sentiu vontade de vomitar.

- Se ao menos - continuou Justin - Laura tivesse aparecido anos atrás! Estivemos conversando sobre quanto de aluguel poderemos pagar. No caminho para cá, hoje, comecei a calcular quanto gastei com a terapia. Três vezes por semana por cinco anos. Quanto é isso? Setenta e oito mil dólares? Não leve para o lado pessoal, Ernest, mas não consigo deixar de especular o que teria acontecido se Laura tivesse aparecido cinco anos atrás. Talvez eu tivesse deixado Carol naquela época. E terminado a terapia, também. Talvez estivesse procurando um apartamento agora com oitenta mil dólares no meu bolso!

Ernest sentiu o rosto corar. As palavras de Justin soavam na sua cabeça. Oitenta mil dólares! Não leve isto para o lado pessoal, não leve isto para o lado pessoal!

Mas Ernest não deixou transparecer nada. Não piscou nem se defendeu. Nem apontou que, cinco anos atrás, Laura teria cerca de 14 anos e Justin não conseguiria limpar o traseiro sem pedir a permissão de Carol, não conseguiria passar a noite sem telefonar para o seu terapeuta, não conseguiria escolher de um menu sem a orientação da sua mulher, não conseguiria se vestir de manhã se ela não deixasse as roupas separadas. E, de qualquer maneira, foi o dinheiro da mulher que pagou as contas, não o dele - Carol ganhava o triplo do que ele ganhava. Se não fosse pelos cinco anos de terapia, ele teria oitenta mil dólares no bolso! Que droga, cinco anos atrás Justin não conseguiria se decidir em que bolso guardar!

Mas Ernest não disse nenhuma destas coisas. Ficou orgulhoso do próprio controle, um sinal claro do seu amadurecimento como terapeuta. Em vez disso, perguntou inocentemente: - Você está animado em todos os sentidos?

- O que quer dizer?

- Quero dizer, esta é uma ocasião importantíssima. Com certeza você deve ter muitas camadas de sentimentos sobre ela?

Mas Justin não deu a Ernest aquilo que ele desejava. Falou pouco voluntariamente, pareceu distante, desconfiado. Finalmente Ernest percebeu que ele não deveria se concentrar no conteúdo, mas no processo, isto é, no relacionamento entre paciente e terapeuta.

Processo é o amuleto mágico do terapeuta, sempre eficiente nos momentos de impasse. É o segredo comercial mais poderoso do terapeuta, aquele procedimento que torna o conversar com um terapeuta materialmente diferente e mais eficiente do que conversar com um amigo íntimo. Aprender a enfocar o processo, naquilo que estava acontecendo entre o paciente e o terapeuta, era a coisa mais valiosa que tinha conseguido de sua supervisão com Marshal e, por sua vez, era o ensino mais valioso que ele próprio oferecia quando era super visor dos residentes. Gradualmente, ao longo dos anos, ele tinha entendido que o processo não era apenas um amuleto a ser usado em tempos de dificuldades; era o próprio coração da terapia. Um dos exercícios de treinamento mais úteis que Marshal lhe tinha dado era enfocar o processo em pelo menos três momentos diferentes durante cada sessão.

- Justin - Ernest se aventurou -, podemos examinar o que está acontecendo hoje entre nós dois?

- O quê? O que você quer dizer com “o que está acontecendo”?

Mais resistência. Justin fazendo-se de tonto. Mas, pensou Ernest, talvez rebelião, mesmo rebelião passiva, não fosse uma coisa ruim. Lembrou-se daquelas muitas horas que tinham trabalhado na enlouquecedora subserviência de Justin - as sessões gastas na tendência de Justin de pedir desculpas por tudo e não pedir nada, nem mesmo reclamar do sol da manhã nos olhos ou perguntar se as persianas poderiam ser abaixadas. Dado esse histórico, Ernest sabia que deveria aplaudir Justin, apoiá-lo por tomar uma posição firme. A tarefa hoje era ajudá-lo a converter essa ridícula resistência em franca expressão.

- Quero dizer, como você se sente sobre conversar comigo hoje? Alguma coisa está diferente. Você não acha?

- O que você sente? - Justin perguntou.

Epa, outra resposta bem imprópria de Justin. Uma declaração de independência. Seja feliz, Ernest pensou. Lembra da alegria de Gepeto quando Pinóquio dançou sem os fios pela primeira vez?

- Muito justo, Justin. Bem, sinto-me distante, deixado de fora, como se algo importante tivesse acontecido a você. Não, não está certo. Deixe-me colocar da seguinte maneira: como se você tivesse feito com que algo importante acontecesse e quisesse mantê-lo separado de mim, como se você não quisesse estar aqui, como se você quisesse me excluir.

Justin assentiu com gratidão: - É isso, Ernest. Exatamente isso. É, realmente me sinto assim. Estou ficando longe de você. Quero me agarrar a isso de me sentir bem. Não quero que me levem para baixo.

- E eu vou levar você para baixo? Vou tentar afastar para longe de você?

- Você já tentou - disse Justin, olhando diretamente nos olhos de Ernest, algo fora de sua característica.

Ernest ergueu as sobrancelhas zombeteiramente.

- Bem, não é isso o que você estava fazendo quando perguntou se eu estava animado em todos os sentidos?

Ernest segurou a respiração. Uau! Um verdadeiro desafio vindo de Justin. Talvez ele tivesse aprendido alguma coisa da terapia, afinal de contas! Agora Ernest bancou o inocente. - Como assim?

- É claro que não me sinto bem em todos os sentidos. Tenho vários sentimentos sobre deixar Carol e minha família para sempre. Você não sabe disso? Como não poderia saber? Acabo de me afastar de tudo: minha casa, meu laptop Toshiba, meus filhos, minhas roupas, minha bicicleta, minhas raquetes de raquetebol, minhas gravadas, minha tevê Mitsubishi, minhas fitas de vídeo, meus CDs. Você conhece a Carol: ela não me dará nada, destruirá tudo que possuo. Uuuuuiii... - Justin fez uma careta, cruzou os braços e se curvou para a frente como se tivesse acabado de receber um soco na barriga. - Essa dor está lá, eu posso tocá-la, você vê o quanto está perto. Mas hoje, por um único dia, queria esquecer, mesmo que umas poucas horas. E você não quis que eu esquecesse. Nem mesmo parece satisfeito de eu ter finalmente deixado a Carol.

Ernest ficou atordoado. Ele tinha deixado transparecer tanto assim? O que Marshal faria nesta situação? Que diabo, Marshal não estaria nesta situação!

- Você está? - Justin repetiu.

- Estou o quê? - Como um pugilista aturdido, Ernest deu um clinch no oponente enquanto desanuviava a sua cabeça.

- Satisfeito com o que fiz?

- Você acha - Ernest saía pela tangente, tentando duramente regular a voz - que não estou satisfeito com o seu progresso?

- Satisfeito? Você não age como se estivesse - Justin respondeu.

- E quanto a você? - Ernest saiu de novo pela tangente. - Você está satisfeito?

Justin afrouxou e ignorou desta vez uma tentativa de esquiva. Tudo tem um limite. Ele precisava de Ernest e abandonou a defensiva: - Satisfeito? Sim. E apavorado. E decidido. E vacilando. Tudo misturado. O mais importante agora é eu nunca voltar para trás. Eu me libertei e a coisa importante agora é ficar longe, ficar longe para sempre.

Durante o restante da hora, Ernest tentou fazer emendas, apoiando e animando o paciente: - Defenda seu terreno... lembre por quanto tempo você ansiou por dar esse passo... você agiu segundo os seus melhores interesses... esta pode ser a coisa mais importante que você já fez.

- Devo voltar para discutir isto com Carol? Depois de nove anos, não devo isto a ela?

- Vamos fazer uma dramatização - sugeriu Ernest. - O que aconteceria se você voltasse agora para conversar?

- Confusão. Você sabe o que ela é capaz de fazer. Para mim. Para ela mesma.

Ernest não precisava ser lembrado. Lembrava vividamente um incidente que Justin tinha descrito um ano antes. Vários sócios de Carol na firma de advocacia estavam vindo para um brunch de domingo e, de manhã cedo, Justin, Carol e os dois filhos tinham saído para fazer compras. Justin, que cuidava da cozinha, quis servir peixe defumado, bagels e leo (salmão defumado, ovos mexidos e cebolas). “Muito vulgar”, Carol disse. Não queria sequer ouvir falar disso, apesar de, como Justin lembrou a ela, metade dos sócios serem judeus. Justin decidiu tomar uma decisão firme e começou a virar o carro em direção à rotisseria. “Não, não se atreva, seu filho-da-puta!”, gritou Carol e deu uma guinada no volante para virar de volta. A luta no tráfego em movimento terminou quando ela bateu o carro contra uma motocicleta estacionada.

Carol era uma gata montês, uma marta, uma louca que tiranizava através de sua irracionalidade. Ernest lembrou de outra aventura com carro que Justin descrevera há dois anos. Enquanto dirigiam numa quente noite de verão, ela e Justin tinham discutido sobre a escolha de um filme, ela a favor de As bruxas de Eastwick, ele a favor do Exterminador do futuro II. Ela ergueu a voz, mas Justin, que tinha sido incentivado por Ernest naquela semana a fazer valer seus direitos, se recusou a capitular. Finalmente, ela abriu a porta do carro, novamente num tráfego em movimento, e disse: “Seu safado miserável, não vou gastar nem mais um minuto com você.” Justin a agarrou, mas ela fincou as unhas no antebraço dele e, enquanto pulava para fora do carro, abriu quatro violentos sulcos vermelhos na carne dele.

Uma vez fora do carro, que se movia a cerca de 25 quilômetros por hora, Carol cambaleou para a frente, dando três ou quatro passos aos trancos e depois ficou socando a capota de um carro estacionado. Justin parou o carro e correu em direção a ela, abrindo caminho pela multidão que tinha se juntado. Ela se prostrou na rua, atordoada, mas serena, as meias rasgadas e ensangüentadas nos joelhos, arranhões nas mãos, cotovelos e bochechas, e um pulso obviamente fraturado. O restante da noite foi um pesadelo: a ambulância, o pronto-socorro, o humilhante interrogatório da polícia e da equipe médica.

Justin ficou seriamente abalado. Percebeu que, mesmo com a ajuda de Ernest, não conseguiria dar um lance maior que o de Carol. Nenhuma aposta era alta demais para ela. Aquele mergulho para fora do carro em movimento foi o evento que tinha despedaçado Justin para sempre. Ele não conseguia se opor a ela, nem deixá-la. Ela era uma tirana, mas ele tinha necessidade de tirania. Mesmo uma única noite longe dela o deixava inteiramente ansioso. Sempre que Ernest lhe pedira, como um experimento mental, que imaginasse deixar para trás o casamento, Justin ficava inteiramente aterrorizado. Quebrar sua ligação com Carol parecia inconcebível. Até Laura - 19 anos, bonita, engenhosa, atrevida, sem medo de tiranos - ter aparecido.

- O que você acha? - repetiu Justin. - Devo agir como um homem e tentar conversar sobre tudo com a Carol?

Ernest refletiu sobre as suas opções. Justin precisava de uma mulher dominante: estaria ele meramente trocando uma pela outra? Será que, em poucos anos, este novo relacionamento iria se parecer com o seu antigo? Ainda assim, as coisas tinham estado bem congeladas com Carol. Talvez, uma vez tendo conseguido se afastar dela, Justin pudesse estar aberto, mesmo que por um breve período, ao trabalho terapêutico.

- Realmente preciso agora de algum conselho.

Ernest, assim como todos os terapeutas, detestava dar um conselho direto. Era uma situação sem vencedores: se funcionasse, você teria infantilizado o paciente; se fracassasse, você pareceria um idiota. Mas, neste caso, ele não tinha escolha.

- Justin, não acho que, por ora, seja sensato encontrar-se com ela. Deixe passar algum tempo. Deixe que ela se aprume. Ou, talvez, tente se encontrar com ela com um terapeuta na sala. Eu me colocarei à disposição ou, melhor ainda, darei a você o nome de um terapeuta conjugal. Não estão dizendo aqueles que você já consultou. Sei que não funcionaram. Alguém novo.

Ernest sabia que seu conselho não seria seguido: Carol sempre tinha sabotado a terapia conjugal de casais. Mas conteúdo, o conselho exato que ele deu, não era a questão. O que era importante neste ponto era o processo: o relacionamento por trás das palavras, ele oferecendo apoio a Justin, ele se expiando pela tentativa de saída pela tangente, ele voltando a dar integridade à sessão.

- E se você se sentir pressionado e precisar conversar antes da nossa próxima sessão, telefone-me - Ernest acrescentou.

Boa técnica. Justin pareceu tranqüilizado. Ernest recobrou seu prumo. Tinha salvado a sessão. Sabia que seu supervisor aprovaria a sua técnica. Mas ele próprio não aprovou. Sentiu-se sujo. Contaminado. Não tinha sido honesto com Justin. Eles não tinham sido verdadeiros um com o outro. E era isso que ele valorizava em Seymour Trotter. Diga o que você quiser sobre ele - e Deus sabe que muito se falou -, mas Seymour sabia como ser verdadeiro. Ainda se lembrava da resposta de Seymour à sua pergunta sobre a técnica: “Minha técnica é abandonar a técnica. Minha técnica é dizer a verdade.”

Quando a hora chegava ao fim, algo fora do comum transpirou. Ernest sempre fizera questão de tocar fisicamente cada um de seus pacientes em cada sessão. Ele e Justin costumeiramente se despediam com um aperto de mãos. Mas não este dia: Ernest abriu a porta e inclinou sombriamente a cabeça para Justin quando este saiu.

04 junho 2006

Um minuto de silêncio - O dia que não terminou...

Hoje a tarde 'upei' a foto acima dos Detonautas semmesmo saber o que tinha acontecido... o por quê? Ontem fiquei teve um show deles aqui no Porão do rock, não fui, mas do nada coloquei o DVD 'Roque marciano ao vivo' resolvi então postar hoje um comentário sobre o novo album deles"psicodeliamorsexo&distorção" e mais ...então 'upei' a foto preparei o comentário e decidi publicar somente à noite e então modifiquei algumas coisas aqui e outras ali na estrutura do blog e desconectei...horas mais tarde assistindo ao 'Fantástico' a tragica notícia Rodrigo Netto, 29, guitarrista da banda Detonautas Roque Clube, foi morto na noite deste domingo (4) após uma tentativa de assalto. Netto foi baleado na avenida Marechal Rondon, no Rocha (zona norte do Rio), enquanto dirigia seu Astra preto estava acompanhado de seu irmão, Rafael Netto, e de sua avó, Eliana de Andrade da Silva Netto, espanto e terror me tomaram... Vejam só a violência me pegou... logo eu que me fecho no meu mundo... Silêncio... penso... luto em luto... até quando?

 
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