31 outubro 2005

As Intermitências da morte

Já está nas lojas o novo livro do mestre português José Saramago
Intermitências da Morte (Companhia das Letras; 207 páginas; 35 reais) bom...não tem muito o que dizer..então leiam..rs... segue trecho do livro:
No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e nocturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada. Nem sequer um daqueles acidentes de automóvel tão frequentes em ocasiões festivas, quando a alegre irresponsabilidade e o excesso de álcool se desafiam mutuamente nas estradas para decidir sobre quem vai conseguir chegar à morte em primeiro lugar. A passagem do ano não tinha deixado atrás de si o habitual e calamitoso regueiro de óbitos, como se a velha átropos da dentuça arreganhada tivesse resolvido embainhar a tesoura por um dia. Sangue, porém, houve-o, e não pouco. Desvairados, confusos, aflitos, dominando a custo as náuseas, os bombeiros extraíam da amálgama dos destroços míseros corpos humanos que, de acordo com a lógica matemática das colisões, deveriam estar mortos e bem mortos, mas que, apesar da gravidade dos ferimentos e dos traumatismos sofridos, se mantinham vivos e assim eram transportados aos hospitais, ao som das dilacerantes sereias das ambulâncias. Nenhuma dessas pessoas morreria no caminho e todas iriam desmentir os mais pessimistas prognósticos médicos, Esse pobre diabo não tem remédio possível, nem valia a pena perder tempo a operá-lo, dizia o cirurgião à enfermeira enquanto esta lhe ajustava a máscara à cara. Realmente, talvez não houvesse salvação para o coitado no dia anterior, mas o que estava claro é que a vítima se recusava a morrer neste. E o que acontecia aqui, acontecia em todo o país. Até à meia-noite em ponto do último dia do ano ainda houve gente que aceitou morrer no mais fiel acatamento às regras, quer as que se reportavam ao fundo da questão, isto é, acabar-se a vida, quer as que atinham às múltiplas modalidades de que ele, o referido fundo da questão, com maior ou menor pompa e solenidade, usa revestir-se quando chega o momento fatal. Um caso sobre todos interessante, obviamente por se tratar de quem se tratava, foi o da idosíssima e veneranda rainha-mãe. Às vinte e três horas e cinquenta e nove minutos daquele dia trinta e um de dezembro ninguém seria tão ingénuo que apostasse um pau de fósforo queimado pela vida da real senhora. Perdida qualquer esperança, rendidos os médicos à implacável evidência, a família real, hierarquicamente disposta ao redor do leito, esperava com resignação o derradeiro suspiro da matriarca, talvez umas palavrinhas, uma última sentença edificante com vista à formação moral dos amados príncipes seus netos, talvez uma bela e arredondada frase dirigida à sempre ingrata retentiva dos súbditos vindouros. E depois, como se o tempo tivesse parado, não aconteceu nada. A rainha-mãe nem melhorou nem piorou, ficou ali como suspensa, baloiçando o frágil corpo à borda da vida, ameaçando a cada instante cair para o outro lado, mas atada a este por um ténue fio que a morte, só podia ser ela, não se sabe por que estranho capricho, continuava a segurar. Já tínhamos passado ao dia seguinte, e nele, como se informou logo no princípio deste relato, ninguém iria morrer.
A tarde já ia muito adiantada quando começou a correr o rumor de que, desde a entrada do novo ano, mais precisamente desde as zero horas deste dia um de janeiro em que estamos, não havia constância de se ter dado em todo o país um só falecimento que fosse. Poderia pensar-se, por exemplo, que o boato tivesse tido origem na surpreendente resistência da rainha-mãe a desistir da pouca vida que ainda lhe restava, mas a verdade é que a habitual parte médica distribuída pelo gabinete de imprensa do palácio aos meios de comunicação social não só assegurava que o estado geral da real enferma havia experimentado visíveis melhoras durante a noite, como até sugeria, como até dava a entender, escolhendo cuidadosamente as palavras, a possibilidade de um completo restabelecimento da importantíssima saúde. Na sua primeira manifestação o rumor também poderia ter saído com toda a naturalidade de uma agência de enterros e trasladações, Pelos vistos ninguém parece estar disposto a morrer no primeiro dia do ano, ou de um hospital, Aquele tipo da cama vinte e sete não ata nem desata, ou do porta-voz da polícia de trânsito, É um autêntico mistério que, tendo havido tantos acidentes na estrada, não haja ao menos um morto para exemplo. O boato, cuja fonte primigénia nunca foi descoberta, sem que, por outro lado, à luz do que viria a suceder depois, isso importasse muito, não tardou a chegar aos jornais, à rádio e à televisão, e fez espevitar imediatamente as orelhas a directores, adjuntos e chefes de redacção, pessoas não só preparadas para farejar à distância os grandes acontecimentos da história do mundo como treinadas no sentido de os tornar ainda maiores sempre que tal convenha. Em poucos minutos já estavam na rua dezenas de repórteres de investigação fazendo perguntas a todo o bicho-careta que lhes aparecesse pela frente, ao mesmo tempo que nas fervilhantes redacções as baterias de telefones se agitavam e vibravam em idênticos frenesis indagadores. Fizeram-se chamadas para os hospitais, para a cruz vermelha, para a morgue, para as agências funerárias, para as polícias, para todas elas, com compreensível exclusão da secreta, mas as respostas iam dar às mesmas lacónicas palavras, Não há mortos. Mais sorte teria aquela jovem repórter de televisão a quem um transeunte, olhando alternadamente para ela e para a câmara, contou um caso vivido em pessoa e que era a exacta cópia do já citado episódio da rainha-mãe, Estava justamente a dar a meia-noite, disse ele, quando o meu avô, que parecia mesmo a ponto de finar-se, abriu de repente os olhos antes que soasse a última badalada no relógio da torre, como se se tivesse arrependido do passo que ia dar, e não morreu. A repórter ficou a tal ponto excitada com o que tinha acabado de ouvir que, sem atender a protestos nem súplicas, Ó minha senhora, por favor, não posso, tenho de ir à farmácia, o avô está lá à espera do remédio, empurrou o homem para dentro do carro da reportagem, Venha, venha comigo, o seu avô já não precisa de remédios, gritou, e logo mandou arrancar para o estúdio da televisão, onde nesse preciso momento tudo estava a preparar-se para um debate entre três especialistas em fenómenos paranormais, a saber, dois bruxos conceituados e uma famosa vidente, convocados a toda a pressa para analisarem e darem a sua opinião sobre o que já começava a ser chamado por alguns graciosos, desses que nada respeitam, a greve da morte. A confiada repórter laborava no mais grave dos enganos, porquanto havia interpretado as palavras da sua fonte informativa como significando que o moribundo, em sentido literal, se tinha arrependido do passo que estava prestes a dar, isto é, morrer, defuntar, esticar o pernil, e portanto resolvera fazer marcha atrás. Ora, as palavras que o feliz neto havia efectivamente pronunciado, Como se se tivesse arrependido, eram radicalmente diferentes de um peremptório Arrependeu-se. Umas quantas luzes de sintaxe elementar e uma maior familiaridade com as elásticas subtilezas dos tempos verbais teriam evitado o quiproquó e a consequente descompostura que a pobre moça, rubra de vergonha e humilhação, teve de suportar do seu chefe directo. Mal podiam imaginar, porém, ele e ela, que a tal frase, repetida em directo pelo entrevistado e novamente escutada em gravação no telejornal da noite, iria ser compreendida da mesma equivocada maneira por milhões de pessoas, o que virá a ter como desconcertante consequência, num futuro muito próximo, a criação de um movimento de cidadãos firmemente convencidos de que pela simples acção da vontade será possível vencer a morte e que, por conseguinte, o imerecido desaparecimento de tanta gente no passado só se tinha devido a uma censurável debilidade de volição das gerações anteriores. Mas as cousas não ficarão por aqui. Uma vez que as pessoas, sem que para tal tenham de cometer qualquer esforço perceptível, irão continuar a não morrer, um outro movimento popular de massas, dotado de uma visão prospectiva mais ambiciosa, proclamará que o maior sonho da humanidade desde o princípio dos tempos, isto é, o gozo feliz de uma vida eterna cá na terra, se havia tornado em um bem para todos, como o sol que nasce todos os dias e o ar que respiramos. Apesar de disputarem, por assim dizer, o mesmo eleitorado, houve um ponto em que os dois movimentos souberam pôr-se de acordo, e foi terem nomeado para a presidência honorária, dada a sua eminente qualidade de precursor, o corajoso veterano que, no instante supremo, havia desafiado e derrotado a morte. Tanto quanto se sabe, não virá a ser atribuída particular importância ao facto de o avôzinho se encontrar em estado de coma profundo e, segundo todos os indícios, irreversível.
Embora a palavra crise não seja certamente a mais apropriada para caracterizar os singularíssimos sucessos que temos vindo a narrar, porquanto seria absurdo, incongruente e atentatório da lógica mais ordinária falar-se de crise numa situação existencial justamente privilegiada pela ausência da morte, compreende-se que alguns cidadãos, zelosos do seu direito a uma informação veraz, andem a perguntar-se a si mesmos, e uns aos outros, que diabo se passa com o governo, que até agora não deu o menor sinal de vida. É certo que o ministro da saúde, interpelado à passagem no breve intervalo entre duas reuniões, havia explicado aos jornalistas que, tendo em consideração a falta de elementos suficientes de juízo, qualquer declaração oficial seria forçosamente prematura, Estamos a coligir as informações que nos chegam de todo o país, acrescentou, e realmente em nenhuma delas há menção de falecimentos, mas é fácil imaginar que, colhidos de surpresa como toda a gente, ainda não estejamos preparados para enunciar uma primeira ideia sobre as origens do fenómeno e sobre as suas implicações, tanto as imediatas como as futuras. Poderia ter-se deixado ficar por aqui, o que, levando em conta as dificuldades da situação, já seria motivo para agradecer, mas o conhecido impulso de recomendar tranquilidade às pessoas a propósito de tudo e de nada, de as manter sossegadas no redil seja como for, esse tropismo que nos políticos, em particular se são governo, se tornou numa segunda natureza, para não dizer automatismo, movimento mecânico, levou-o a rematar a conversa da pior maneira, Como responsável pela pasta da saúde, asseguro a todos quantos me escutam que não existe qualquer motivo para alarme, Se bem entendi o que acabo de escutar, observou um jornalista em tom que não queria parecer demasiado irónico, na opinião do senhor ministro não é alarmante o facto de ninguém estar a morrer, Exacto, embora por outras palavras, foi isso mesmo o que eu disse, Senhor ministro, permita-me que lhe recorde que ainda ontem havia pessoas que morriam e a ninguém lhe passaria pela cabeça que isso fosse alarmante, É natural, o costume é morrer, e morrer só se torna alarmante quando as mortes se multiplicam, uma guerra, uma epidemia, por exemplo, Isto é, quando saem da rotina, Poder-se-á dizer assim, Mas, agora que não se encontra quem esteja disposto a morrer, é quando o senhor ministro nos vem pedir que não nos alarmemos, convirá comigo que, pelo menos, é bastante paradoxal, Foi a força do hábito, reconheço que o termo alarme não deveria ter sido chamado a este caso, Que outra palavra usaria então o senhor ministro, faço a pergunta porque, como jornalista consciente das minhas obrigações que me prezo de ser, me preocupa empregar o termo exacto sempre que possível. Ligeiramente enfadado com a insistência, o ministro respondeu secamente, Não uma, mas quatro, Quais, senhor ministro, Não alimentemos falsas esperanças. Teria sido, sem dúvida, uma boa e honesta manchete para o jornal do dia seguinte, mas o director, após consultar com o seu redactor-chefe, considerou desaconselhável, também do ponto de vista empresarial, lançar esse balde de água gelada sobre o entusiasmo popular, Ponha-lhe o mesmo de sempre, Ano Novo, Vida Nova, disse.
No comunicado oficial, finalmente difundido já a noite ia adiantada, o chefe do governo ratificava que não se haviam registado quaisquer defunções em todo o país desde o início do novo ano, pedia comedimento e sentido de responsabilidade nas avaliações e interpretações que do estranho facto viessem a ser elaboradas, lembrava que não deveria excluir-se a hipótese de se tratar de uma casualidade fortuita, de uma alteração cósmica meramente acidental e sem continuidade, de uma conjunção excepcional de coincidências intrusas na equação espaço-tempo, mas que, pelo sim, pelo não, já se haviam iniciado contactos exploratórios com os organismos internacionais competentes em ordem a habilitar o governo a uma acção que seria tanto mais eficaz quanto mais concertada pudesse ser. Enunciadas estas vaguidades pseudocientíficas, destinadas, também elas, a tranquilizar, pelo incompreensível, o alvoroço que reinava no país, o primeiro-ministro terminava afirmando que o governo se encontrava preparado para todas as eventualidades humanamente imagináveis, decidido a enfrentar com coragem e com o indispensável apoio da população os complexos problemas sociais, económicos, políticos e morais que a extinção definitiva da morte inevitavelmente suscitaria, no caso, que tudo parece indicar como previsível, de se vir a confirmar. Aceitaremos o repto da imortalidade do corpo, exclamou em tom arrebatado, se essa for a vontade de deus, a quem para todo o sempre agradeceremos, com as nossas orações, haver escolhido o bom povo deste país para seu instrumento. Significa isto, pensou o chefe do governo ao terminar a leitura, que estamos metidos até aos gorgomilos numa camisa-de-onze-varas. Não podia ele imaginar até que ponto o colarinho lhe iria apertar. Ainda meia hora não tinha passado quando, já no automóvel oficial que o levava a casa, recebeu uma chamada do cardeal, Boas noites, senhor primeiro-ministro, Boas noites, eminência, Telefono-lhe para lhe dizer que me sinto profundamente chocado, Também eu, eminência, a situação é muito grave, a mais grave de quantas o país teve de viver até hoje, Não se trata disso, De que se trata então, eminência, É a todos os respeitos deplorável que, ao redigir a declaração que acabei de escutar, o senhor primeiro-ministro não se tenha lembrado daquilo que constitui o alicerce, a viga mestra, a pedra angular, a chave de abóbada da nossa santa religião, Eminência, perdoe-me, temo não compreender aonde quer chegar, Sem morte, ouça-me bem, senhor primeiro-ministro, sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja, Ó diabo, Não percebi o que acaba de dizer, repita, por favor, Estava calado, eminência, provavelmente terá sido alguma interferência causada pela electricidade atmosférica, pela estática, ou mesmo um problema de cobertura, o satélite às vezes falha, dizia vossa eminência que, Dizia o que qualquer católico, e o senhor não é uma excepção, tem obrigação de saber, que sem ressurreição não há igreja, além disso, como lhe veio à cabeça que deus poderá querer o seu próprio fim, afirmá-lo é uma ideia absolutamente sacrílega, talvez a pior das blasfémias, Eminência, eu não disse que deus queria o seu próprio fim, De facto, por essas exactas palavras, não, mas admitiu a possibilidade de que a imortalidade do corpo resultasse da vontade de deus, não será preciso ser-se doutorado em lógica transcendental para perceber que quem diz uma cousa, diz a outra, Eminência, por favor, creia-me, foi uma simples frase de efeito destinada a impressionar, um remate de discurso, nada mais, bem sabe que a política tem destas necessidades, Também a igreja as tem, senhor primeiro-ministro, mas nós ponderamos muito antes de abrir a boca, não falamos por falar, calculamos os efeitos à distância, a nossa especialidade, se quer que lhe dê uma imagem para compreender melhor, é a balística, Estou desolado, eminência, No seu lugar também o estaria. Como se estivesse a avaliar o tempo que a granada levaria a cair, o cardeal fez uma pausa, depois, em tom mais suave, mais cordial, continuou, Gostaria de saber se o senhor primeiro-ministro levou a declaração ao conhecimento de sua majestade antes de a ler aos meios de comunicação social, Naturalmente, eminência, tratando-se de um assunto de tanto melindre, E que disse o rei, se não é segredo de estado, Pareceu-lhe bem, Fez algum comentário ao terminar, Estupendo, Estupendo, quê, Foi o que sua majestade me disse, estupendo, Quer dizer que também blasfemou, Não sou competente para formular juízos dessa natureza, eminência, viver com os meus próprios erros já me dá trabalho suficiente, Terei de falar ao rei, recordar-lhe que, em uma situação como esta, tão confusa, tão delicada, só a observância fiel e sem desfalecimento das provadas doutrinas da nossa santa madre igreja poderá salvar o país do pavoroso caos que nos vai cair em cima, Vossa eminência decidirá, está no seu papel, Perguntarei a sua majestade que prefere, se ver a rainha-mãe para sempre agonizante, prostrada num leito de que não voltará a levantar-se, com o imundo corpo a reter-lhe indignamente a alma, ou vê-la, por morrer, triunfadora da morte, na glória eterna e resplandecente dos céus, Ninguém hesitaria na resposta, Sim, mas, ao contrário do que se julga, não são tanto as respostas que me importam, senhor primeiro-ministro, mas as perguntas, obviamente refiro-me às nossas, observe como elas costumam ter, ao mesmo tempo, um objectivo à vista e uma intenção que vai escondida atrás, se as fazemos não é apenas para que nos respondam o que nesse momento necessitamos que os interpelados escutem da sua própria boca, é também para que se vá preparando o caminho às futuras respostas, Mais ou menos como na política, eminência, Assim é, mas a vantagem da igreja é que, embora às vezes o não pareça, ao gerir o que está no alto, governa o que está em baixo. Houve uma nova pausa, que o primeiro-ministro interrompeu, Estou quase a chegar a casa, eminência, mas, se me dá licença, ainda gostaria de lhe pôr uma breve questão, Diga, Que irá fazer a igreja se nunca mais ninguém morrer, Nunca mais é demasiado tempo, mesmo tratando-se da morte, senhor primeiro-ministro, Creio que não me respondeu, eminência, Devolvo-lhe a pergunta, que vai fazer o estado se nunca mais ninguém morrer, O estado tentará sobreviver, ainda que eu muito duvide de que o venha a conseguir, mas a igreja, A igreja, senhor primeiro-ministro, habituou-se de tal maneira às respostas eternas que não posso imaginá-la a dar outras, Ainda que a realidade as contradiga, Desde o princípio que nós não temos feito outra cousa que contradizer a realidade, e aqui estamos, Que irá dizer o papa, Se eu o fosse, perdoe-me deus a estulta vaidade de pensar-me tal, mandaria pôr imediatamente em circulação uma nova tese, a da morte adiada, Sem mais explicações, À igreja nunca se lhe pediu que explicasse fosse o que fosse, a nossa outra especialidade, além da balística, tem sido neutralizar, pela fé, o espírito curioso, Boas noites, eminência, até amanhã, Se deus quiser, senhor primeiro-ministro, sempre se deus quiser, Tal como estão as cousas neste momento, não parece que ele o possa evitar, Não se esqueça, senhor primeiro-ministro, de que fora das fronteiras do nosso país se continua a morrer com toda a normalidade, e isso é um bom sinal, Questão de ponto de vista, eminência, talvez lá de fora nos estejam a olhar como um oásis, um jardim, um novo paraíso, Ou um inferno, se forem inteligentes, Boas noites, eminência, desejo-lhe um sono tranquilo e reparador, Boas noites, senhor primeiro-ministro, se a morte resolver regressar esta noite, espero que não se lembre de o ir escolher a si, Se a justiça neste mundo não é uma palavra vã, a rainha-mãe deverá ir primeiro que eu, Prometo que não o denunciarei amanhã ao rei, Quanto lhe agradeço, eminência, Boas noites, Boas noites.
Eram três horas da madrugada quando o cardeal teve de ser levado a correr ao hospital com um ataque de apendicite aguda que obrigou a uma imediata intervenção cirúrgica. Antes de ser sugado pelo túnel da anestesia, naquele instante veloz que precede a perda total da consciência, pensou o que tantos outros têm pensado, que poderia vir a morrer durante a operação, depois lembrou-se de que tal já não era possível, e, finalmente, num último lampejo de lucidez, ainda lhe passou pela mente a ideia de que se, apesar de tudo, morresse mesmo, isso significaria que teria, paradoxalmente, vencido a morte. Arrebatado por uma irresistível ânsia sacrificial ia implorar a deus que o matasse, mas já não foi a tempo de pôr as palavras na sua ordem. A anestesia poupou-o ao supremo sacrilégio de querer transferir os poderes da morte para um deus mais geralmente conhecido como dador da vida.

30 outubro 2005

O Enigma dos Quatro


Outra dica de leitura é 'O Enigma dos Quatro', de Ian Caldwell e Dustin Thomason (Planeta -R$39,90), considera por alguns criticos com um dos livros mais dificéis de se ler..então não é bem uma dica e sim um desafio..rs segue um trecho retirado da revista Veja
PRÓLOGO
Acho que, como muitos de nós, meu pai passou toda a sua vida reunindo fragmentos de uma história que nunca compreenderia. Essa história começou quase cinco séculos antes de eu ir para a universidade, e terminou muito após a sua morte. Em novembro de 1497, dois mensageiros cavalgaram, certa noite, das sombras do Vaticano até uma igreja chamada San Lorenzo, fora dos muros da cidade de Roma. O que aconteceu naquela noite mudou seus destinos, e meu pai acreditava que poderia mudar o seu também. Nunca coloquei muita fé em suas crenças. Um filho é a promessa que o tempo faz a um homem, a garantia que cada pai recebe de que tudo quanto considera precioso será algum dia visto como tolo, e que a pessoa que mais ama no mundo o interpretará mal. Mas meu pai, um estudioso da Renascença, nunca se assustou com a possibilidade de renascimento. Ele contou com tanta freqüência a história dos dois mensageiros que jamais pude esquecê-la, por mais que tentasse. Ele sentia que nela havia uma lição, uma verdade que acabaria por nos atrair. Os mensageiros haviam sido enviados a San Lorenzo para entregar uma carta a um nobre, sendo advertidos para não abri-la sob pena de morte. A carta estava lacrada quatro vezes com cera preta, e supostamente continha um segredo que o meu pai levaria três décadas tentando descobrir. Mas a escuridão havia caído sobre Roma naqueles dias, sua glória tinha surgido e desaparecido e ainda não havia retornado. Um céu estrelado ainda estava pintado no teto da Capela Sistina, e chuvas apocalípticas inundaram o rio Tibre, em cujas margens apareceu, segundo reclamações de velhas viúvas, um monstro com corpo de mulher e cabeça de burro. Os dois ávidos cavaleiros, Rodrigo e Donato, não prestaram atenção ao aviso de seu senhor. Eles aqueceram os lacres de cera com uma vela e abriram a carta para conhecer seu conteúdo. Antes de partir para San Lorenzo, tornaram a lacrar a carta de maneira impecável, copiando o sinete do nobre com tanto cuidado que a adulteração ficava impossível de ser detectada. Se seu mestre não fosse um homem extremamente sábio, os dois mensageiros certamente teriam sobrevivido. Porque não seria o lacre a arruinar Rodrigo e Donato e sim, a cera preta onde os lacres haviam sido pressionados. Quando chegaram a San Lorenzo, os mensageiros foram recebidos por um maçom que sabia o que havia na cera: um extrato de uma erva venenosa chamada erva-moura mortal, que, quando aplicada aos olhos, dilata a pupila. Hoje o composto é empregado na medicina, mas naqueles tempos era utilizado pelas mulheres italianas como cosmético, uma vez que pupilas dilatadas eram tidas como sinal de beleza. Foi essa prática que deu à planta seu outro nome: "mulher bonita" ou beladona. Durante o tempo em que Rodrigo e Donato ficaram a derreter cada lacre, a fumaça da cera ardente aderiu-lhes aos olhos. Quando chegaram a San Lorenzo, o maçom os conduziu até um candelabro próximo ao altar. E como suas pupilas não se contraíram, ele soube o que haviam feito. E embora os homens se esforçassem para reconhecê-lo com seus olhos desfocados, o maçom fez como lhe havia sido dito: pegou sua espada e os decapitou. Era um teste de confiança, tinha dito seu senhor, e os mensageiros haviam falhado. O que aconteceu com Rodrigo e Donato, meu pai só soube por meio de um documento que descobriu pouco antes de morrer. O maçom cobriu os corpos dos homens e os arrastou para fora da igreja, absorvendo seu sangue com tecido grosseiro de algodão e trapos. Colocou as cabeças em duas sacolas, uma de cada lado da sela de seu cavalo de montaria; os corpos, ele os amarrou no dorso dos cavalos dos dois mensageiros, e em seguida prendeu os animais a reboque do seu próprio cavalo. Encontrou a carta no bolso de Donato e queimou-a, porque era uma fraude e não havia destinatário real a quem entregá-la. Então, antes de partir, curvou-se em penitência diante da igreja, horrorizado com o pecado que havia cometido em nome de seu senhor. Aos seus olhos, as seis colunas de San Lorenzo formavam dentes negros por causa dos vãos entre elas e o simplório maçom admitiu que tremeu quando viu isso, porque em criança ele ficou sabendo, no colo das viúvas, como o poeta Dante tinha visto o inferno e como a punição do maior dos pecadores foi a de ser mastigado para todo o sempre pelas mandíbulas de lo 'mperador del doloroso regno. É possível que o velho São Lourenço, de sua tumba, ao ver o sangue nas mãos do pobre homem, tenha arregalado os olhos e, por fim, o tenha perdoado. E pode ser que não houvesse perdão a ser dado e, como os santos e mártires de hoje, Lourenço tenha permanecido impenetravelmente silencioso. Naquela mesma noite, mais tarde, o maçom, seguindo as ordens de seu senhor, levou os corpos de Rodrigo e de Donato a um açougueiro. É melhor não adivinhar o destino de suas carcaças. Seus restos foram espalhados pelas ruas e recolhidos pelas carroças de lixo, espero, ou devorados por cães antes que pudessem ser assados como recheio de torta. Mas o açougueiro deu outro destino às duas cabeças dos homens. Um padeiro que vivia na cidade, um homem com um toque do demônio em si, levou as cabeças e as colocou em seu próprio forno, onde as deixou durante a noite. As viúvas do lugar tinham o costume de emprestar o forno do padeiro, ao anoitecer, enquanto as brasas do dia ainda estavam quentes; naquela ocasião, quando lá chegaram, as mulheres começaram a gritar e quase desmaiaram diante da visão grotesca que as aguardava. À primeira vista este parece ser um destino vulgar, ser usado como meio de pregar uma peça em mulheres idosas. Mas imagino que Rodrigo e Donato ficaram muito mais famosos morrendo dessa maneira do que se tivessem permanecido vivos. Porque as viúvas, em todas as civilizações, são as mantenedoras da memória, e as que encontraram as cabeças no forno do padeiro certamente nunca esquecerão o acontecido. Mesmo quando o padeiro confessou o que havia feito, as viúvas devem ter continuado a contar a história de sua descoberta para as crianças de Roma, as quais, durante toda uma geração, se recordaram do conto das cabeças milagrosas tão vividamente quanto do monstro expelido pelas enchentes do Tibre. E, embora a história dos dois mensageiros fosse eventualmente esquecida, uma única coisa era certa. O maçom executou seu trabalho a contento. O segredo de seu senhor, qualquer que fosse, jamais deixou San Lorenzo. Na manhã seguinte ao assassinato de Rodrigo e Donato, quando o lixeiro ajuntou lixo e vísceras em seu carrinho de mão, pouco se soube sobre a morte de dois homens. O lento ciclo que avança da beleza para o declínio e de novo para a beleza prosseguiu e, como os dentes da serpente que Cadmus semeou, o sangue do mal regou a terra romana e provocou o Renascimento. Quinhentos anos decorreram antes que alguém descobrisse a verdade. Quando os cinco séculos se passaram, e a morte encontrou um novo par de mensageiros, eu estava terminando o meu último ano na universidade de Princeton.

29 outubro 2005

BRINDE 'O Código da Vinci'


Um pequeno presentinho pra quem leu o ' O Código Da Vinci"..um wallpaper do cartaz do filme baseado no livro!

O Código Da Vinci


Pra quem ainda não leu, a dica é ler o Best Seller "O Código Da Vinci" - Dan Brown( Sextante - R$39,90) um livro que te 'prende' do inicio ao fim.abaixo vc tem uma pequena amostra retirada do site submarino.com
CAPÍTULO 1
Robert Langdon acordou devagar. Um telefone tocava na escuridão - uma campainha metálica, desconhecida. Ele tateou, procurando o abajur da mesinha-de-cabeceira, e o acendeu. Semicerrando os olhos para enxergar o que o cercava, viu um quarto luxuoso, estilo renascentista, com mobília estilo Luís XVI, afrescos nas paredes e uma cama colossal de quatro pilares de mogno. Onde é que eu estou, afinal? O roupão de jacquard pendurado na coluna da cama tinha o monograma: HOTEL RITZ PARIS. Lentamente, a névoa começou a dissipar-se. Langdon atendeu o telefone. - Alô? - Monsieur Langdon? - disse uma voz de homem. - Espero não o ter acordado. Meio zonzo, Langdon consultou o relógio ao lado da cama. Era meia-noite e trinta e dois. Ele havia dormido apenas uma hora e sentia-se morto. - Aqui é da recepção, senhor. Desculpe a intromissão, mas o senhor tem uma visita. Ele insiste que é urgente. Landgon ainda estava se sentindo tonto. Um visitante? Os olhos agora focalizavam um folheto amassado na mesinha-de-cabeceira. THE AMERICAN UNIVERSITY OF PARIS orgulhosamente apresenta Uma noite com Robert Langdon Professor de simbologia religiosa da Universidade de Harvard Langdon gemeu. A palestra daquela noite - uma exibição de slides sobre simbolismo pagão oculto nas pedras da Catedral de Chartres - provavelmente havia deixado arrepiados alguns conservadores presentes na platéia. Muito provavelmente, algum religioso erudito devia tê-lo seguido até o hotel para procurar briga. - Mil perdões - disse Langdon -, mas estou muito cansado e... - Mas monsieur - insistiu o recepcionista, baixando a voz até ela se transformar num sussurro urgente. - Sua visita é um homem importante. Langdon não duvidava. Seus livros sobre pinturas e simbologia religiosa tinham-no tornado, sem querer, uma celebridade no mundo da arte, e no ano passado a visibilidade dele havia aumentado cem por cento, depois de seu envolvimento com um incidente amplamente divulgado no Vaticano. Desde então, a torrente de historiadores célebres e aficionados da arte que batiam à sua porta parecia não ter fim. - Faça-me uma gentileza - disse Langdon, procurando ser o mais educado que podia -, será que pode anotar o nome e o telefone dessa pessoa e lhe dizer que vou tentar ligar para ela antes de sair de Paris, na terça? Obrigado. - Desligou antes que o recepcionista pudesse protestar. Sentado, agora, Langdon franziu o cenho para o seu Manual de Relações com os Hóspedes, ao lado da cama, em cuja capa se lia: DURMA COMO UMA CRIANÇA NA CIDADE-LUZ, RELAXE NO RITZ. Virou-se e olhou cansado para o espelho de corpo inteiro do outro lado do quarto. O homem que retribuiu seu olhar era um estranho - descabelado e exausto. Você está precisando tirar umas férias, Robert. O ano passado havia sido uma barra pesada para ele, mas não lhe agradou ver a prova disso ali no espelho. Seus olhos azuis, geralmente aguçados, pareciam embaçados e fundos naquela noite. Uma barba escura por fazer lhe envolvia toda a mandíbula forte e o queixo com covinha. Em torno das têmporas, fios grisalhos de cabelo avançavam, penetrando na sua cabeleira negra espessa. Embora suas colegas insistissem que o grisalho só acentuava seu charme intelectual, Langdon não se deixava enganar. Se ao menos a Boston Magazine pudesse me ver agora... No mês anterior, para grande constrangimento de Langdon, o periódico Boston Magazine o havia incluído entre uma das dez pessoas mais estimulantes da cidade - honra dúbia que o tornou objeto de infindável gozação por parte de seus colegas de Harvard. Esta noite, a cinco mil quilômetros de casa, aquele elogio havia ressurgido, perseguindo-o na palestra que ministrara. - Senhoras e senhores - anunciou a apresentadora para uma casa cheia no Pavillon Dauphine da American University de Paris -, nosso convidado desta noite dispensa apresentações. É autor de inúmeros livros: A Simbologia das Seitas Secretas, A Arte dos Illuminati, A Linguagem Perdida dos Ideogramas, e quando digo que ele escreveu a bíblia da Iconologia Religiosa estou querendo dizer literalmente isso. Muitos de vocês usam livros dele na sala de aula. Os estudantes da platéia concordaram entusiasticamente. - Eu havia planejado apresentá-lo esta noite com a ajuda de seu impressionante currículo. Porém... - Ela lançou um olhar brincalhão para Langdon, que estava sentado no palco. - Um dos espectadores presentes acabou de me dar uma apresentação bem mais... como diremos... estimulante. E aí ela ergueu um exemplar da Boston Magazine. Langdon se encolheu. Onde ela teria conseguido aquilo? A apresentadora começou a ler trechos do artigo, e Langdon sentiu-se afundar cada vez mais na cadeira. Trinta segundos depois, todos já estavam sorrindo, e a mulher não mostrava sinais de desistir. - E a recusa do Sr. Langdon de falar em público sobre seu papel incomum no conclave do Vaticano no ano passado certamente lhe atribui pontos no nosso "estimulômetro". - Aí a apresentadora pediu ajuda da platéia. - Querem ouvir mais? E a platéia aplaudiu. Pelo amor de Deus, alguém cale a boca dessa mulher, desejou Langdon, enquanto ela mergulhava outra vez no artigo. - Embora o Professor Langdon talvez não seja considerado bonitão como alguns de nossos premiados mais jovens, este acadêmico de quarenta e poucos anos tem mais do que apenas o fascínio exercido pelo seu intelecto. Para realçar sua presença já cativante, é dono de uma voz anormalmente grossa de barítono, que suas alunas descrevem como "chocolate para os ouvidos". Todo o salão irrompeu em gargalhadas. Langdon deu um sorriso forçado. Sabia o que vinha depois: uma comparação idiota tipo "Harrison Ford num terno da Harris Tweed Shop" - e porque, naquela noite, havia imaginado que seria finalmente seguro outra vez usar seu terno de tweed da Harris e blusa de gola rolê da Burberry, resolveu tomar uma atitude. - Obrigado, Monique - disse Langdon, erguendo-se inesperadamente e tratando de expulsá-la discretamente da tribuna. - A Boston Magazine claramente tem talento para a ficção. - Virou-se para a platéia com um suspiro envergonhado. - E se eu descobrir quem de vocês trouxe essa revista, mando o consulado deportar a pessoa. Todos caíram na risada. - Bem, estou aqui hoje para falar sobre o poder dos símbolos... A campainha do telefone do hotel voltou a romper o silêncio. Incrédulo, ele atendeu, com um resmungo. - Alô? Como já esperava, era o recepcionista. - Sr. Langdon, torno a lhe pedir mil desculpas. Estou ligando para lhe informar que seu visitante está a caminho do seu quarto. Achei melhor alertá-lo. Langdon agora estava bem acordado. - Você deixou alguém subir até o meu quarto? - Perdoe-me, monsieur, mas um homem desses... não sei quem é que poderia detê-lo. - Mas quem é exatamente esse cara? O recepcionista, porém, havia desligado. Quase imediatamente, um punho pesado bateu à porta de Langdon. Incerto, Langdon saiu da cama, sentindo os pés mergulharem fundo no tapete floral estilo savonnerie. Vestiu o roupão do hotel e foi até a porta. - Quem é? - Sr. Langdon? Preciso falar com o senhor. - O inglês do homem tinha sotaque, um latido cortante e autoritário. - Meu nome é Jérôme Collet, tenente da Direção Central de Polícia Judiciária. Langdon fez uma pausa. Polícia Judiciária? A DCPJ, na França, era mais ou menos o mesmo que o FBI nos Estados Unidos. Deixando a correntinha na porta, Langdon abriu-a alguns centímetros. O rosto que o olhava era magro e pálido. O homem era excepcionalmente esguio, vestido com um uniforme azul de aspecto oficial. - Posso entrar? - indagou o agente. Langdon hesitou, sentindo incerteza enquanto os olhos amarelados do homem o estudavam. - O que é que está havendo, afinal? - Meu capitão necessita de sua habilidade em um assunto particular. - Agora? - objetou Langdon. - Já passa de meia-noite. - Estou correto ao afirmar que o senhor tinha um encontro marcado com o diretor do Louvre esta noite? Langdon sentiu um súbito desconforto. Ele e o reverenciado curador do Louvre, Jacques Saunière, tinham marcado um encontro para tomar um drinque depois da palestra de Langdon naquela noite, mas Saunière não comparecera. - Sim. Como sabia? - Encontramos seu nome na agenda dele. - Não aconteceu nada demais, aconteceu? O agente soltou um suspiro pesaroso e passou-lhe uma foto polaróide pela abertura estreita da porta. Quando Langdon viu a foto, seu corpo inteiro se contraiu. - Essa foto foi tirada há menos de uma hora. Dentro do Louvre. Enquanto olhava aquela imagem bizarra, Langdon sentiu que a repugnância e o choque iniciais cediam lugar a um súbito acesso de fúria. - Mas quem é que faria uma coisa dessas? - Tínhamos esperanças de que o senhor pudesse nos ajudar a responder essa mesma pergunta, considerando-se seu conhecimento de simbologia e seus planos de encontrar-se com ele. Langdon ficou olhando a foto, estarrecido, o horror agora mesclado com medo. A imagem era repulsiva e profundamente estranha, trazendo-lhe uma sensação esquisita de déjà vu. Pouco mais de um ano antes, Langdon havia recebido uma foto de um cadáver e um pedido de ajuda semelhante. Vinte e quatro horas depois, quase tinha perdido a vida dentro da Cidade do Vaticano. Essa foto era totalmente diferente e, mesmo assim, alguma coisa naquela história toda parecia-lhe inquietantemente familiar. O agente consultou seu relógio. - Meu capitão está esperando, senhor. Langdon mal o escutou. Seus olhos ainda estavam pregados à foto. - Este símbolo aqui e a forma como o corpo dele está, tão estranhamente... - Posicionado? - indagou o agente. Langdon concordou, sentindo um arrepio ao olhar para o homem. - Não dá para imaginar quem faria isso com uma pessoa. A expressão do policial se tornou austera. - O senhor não está entendendo, Sr. Langdon. O que está vendo nessa foto... - fez uma pausa - ...foi Monsieur Saunière quem fez isso consigo mesmo.

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